Marco Aurélio Gomes Veado
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June 5, 2025
A demência não afeta apenas quem é diagnosticado. Ela transforma as relações familiares, muitas vezes de forma dolorosa e irreversível. Um dos temas mais delicados que pode surgir é o conflito de herança.
À medida que a pessoa perde autonomia, decisões sobre bens, procuração e testamento podem gerar discórdia entre familiares.
Após o diagnóstico de Alzheimer ou outra forma de demência, a atenção se volta para os cuidados médicos. Mas, em segundo plano, questões legais e financeiras exigem ações urgentes. Quem vai administrar as finanças? O imóvel deve ser vendido para custear o tratamento? O testamento foi atualizado enquanto a pessoa ainda tinha capacidade?
Sem planejamento prévio, interpretações diferentes sobre as intenções da pessoa podem gerar conflitos familiares intensos.
A dúvida mais comum: a pessoa tem lucidez ao assinar o novo testamento? Pode ser manipulada? Essas perguntas são, emocionalmente, dolorosas e juridicamente complexas. Avaliações médicas e registros são essenciais, mas nem sempre há consenso entre os familiares, principalmente nos estágios iniciais da doença.
A designação de um advogado especialista pode ajuda a manter a organização, mas também pode gerar desconfiança. Irmãos que não participam do dia a dia podem desconfiar das decisões financeiras do cuidador principal.
A transparência é, pois, fundamenta para ajudar a manter registros detalhados e comunicar as decisões que podem evitar desconfianças ou discussões inócuas.
Para muitas famílias, a herança vai além do patrimônio. Ela representa afeto, reconhecimento e história. Quando a pessoa com demência perde a autoridade para as decisões, os parentes tendem a projetar expectativas ou ressentimentos antigos.
Como se não bastasse, alguns cuidadores mais tempo na família podem sentir que merecem mais, enquanto que outros se sentem excluídos. O peso emocional da demência intensifica conflitos familiares preexistentes e até mesmo desses auxiliares.
O melhor caminho para evitar disputas é o planejamento antecipado: testamento, procuração e diretrizes em vida devem ser definidos com apoio jurídico especializado enquanto a pessoa ainda tem autonomia. Essas conversas são difíceis, mas necessárias. E quanto mais cedo, melhor.
Se o conflito já está instalado, a mediação familiar pode ser uma solução menos dolorosa do que ações judiciais. Um mediador de confiança mútua pode ajudar todos a se reconectarem com o que realmente importa: o bem-estar e a dignidade da pessoa com demência.
A demência pode dividir até mesmo as famílias mais próximas, mas isso não precisa acontecer. Ao reconhecer os desafios emocionais e legais desde o início, as famílias podem proteger não apenas os bens, mas também os relacionamentos.
Na MCI and Beyond, acreditamos que, com educação, empatia e diálogo honesto, é possível transformar momentos difíceis em oportunidades para um entendimento mais profundo.
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